segunda-feira, 22 de julho de 2013

Silêncio


Ela nunca falava muito. Passara a infância conversando pouco, e com poucas pessoas. Cresceu desse jeito, sempre valorizando as palavras de tal maneira que muitas vezes preferia calar-se a dizer algo que não fizesse diferença ou que pudesse ser mal interpretado. Aquilo começou a tornar-se um problema. Falar qualquer coisa na frente de muitas pessoas era um sacrifício. Não sabia utilizar as palavras certas. Por causa disso, fez poucas amizades, pois tinha dificuldade em conversar com as pessoas. Não sabia o que dizer, nunca sabia. Não conseguia se aproximar das pessoas e não sabia se elas sequer gostavam da sua presença. Fechava-se em seu mundo. Apesar de falar pouco, era apaixonada por palavras. Lia muito e escrevia ainda mais. Tudo o que não conseguia expressar oralmente, colocava no papel. Quando passava por um problema, não procurava as pessoas para conversar. Ela escrevia. Não tinha certeza se as pessoas a entenderiam ou se sequer se importavam com o que ela tinha a dizer, por isso preferia guardar o que sentia para si mesma. Quando os sentimentos começavam a se acumular dentro dela, ela os colocava no papel, na tentativa e na esperança de que isso a ajudasse de alguma maneira. Transformava sua vida em textos, em cartas jamais enviadas, em crônicas, em contos, em letras de música que nunca conseguira encaixar em alguma melodia. Talvez escrevia por necessidade, e não por opção. Talvez era a única maneira de colocar em palavras o que sentia. Talvez fosse seu jeito próprio de expressar-se. Como se isso fizesse parte dela.

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