segunda-feira, 17 de março de 2014

O que os olhos não veem


       Eles se conheceram na praça do centro da cidade numa tarde ensolarada de dezembro. Ela era cega por nascença e ele ficou encantado com a ideia de que ela sempre aceitou a cegueira e gostava de imaginar as coisas que não podia enxergar. Ela dizia o que imaginava sobre a praça de um jeito quase poético, enquanto ele via a sujeira e o estado crítico em que ela se encontrava. Ela descrevia as mais belas flores e ele só encontrou um florzinha murcha no canto do banco. Era incrível a maneira de ela ver o mundo à seu próprio modo. Ele a olhava e dizia que ela era linda, mas ela não aceitava esse elogio. "Não importa como eu sou por fora. De que adianta ser linda? Eu não consigo enxergar a minha beleza exterior nem a de ninguém, então não é importante". 
       Eles passaram a se encontrar todos os dias naquela praça e ele estava cada vez mais apaixonado por aquele modo que ela tinha de imaginar as coisas. A melhor amiga dela um dia lhe falou que ele era estranho, mancava de uma perna e, convenhamos, não era muito bonito. Ela sorriu dizendo: "Você realmente acha que isso faz diferença para mim? Pra vocês que julgam as aparências uns dos outros pode até ser que faça diferença, mas eu gosto da pessoa que ele é, seja como ele for por fora".  
       Três anos depois, subiram ao altar.
       A beleza, definitivamente, não está nas aparências.

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