Devaneios

Tudo está no mais perfeito silêncio. Às vezes, ouve-se ruídos de pneus se arrastando lá fora. Já são mais de meia-noite e sinto algo molhado em meu rosto: Lágrimas. Ora, isso não é lá grande surpresa. Chorar tem sido o único jeito de conseguir colocar para fora o que me aflige. A escrita já não tem sido muito útil. Um ombro amigo? Esqueça, isso está difícil encontrar. Afinal, aqueles que sempre ouviam minhas lamentações já se foram. Isso porque é mais fácil me deixar do que ouvir o que eu tenho a dizer. E isso acontece justo com aqueles que disseram que jamais iriam abandonar-me. É incrível como ando sendo surpreendida cada vez mais. Bom, para isso há um nome: Expectativa. Mesmo sem querer, você cria expectativas sobre uma pessoa e, caso as atitudes dela não corresponderem às que você imaginava, está criada a decepção. E você culpa a pessoa, mas na realidade, a culpa é toda sua. Foi você que criou expectativas e iludiu-se. Foi você que imaginou o que a pessoa faria enquanto você ainda mal a conhecia direito. Comigo não é diferente. Há outra palavrinha que está sempre presente em mim: Apego. Não sei explicar, mas desde a primeira vez que falo com alguém, crio um vínculo inexistente com a tal pessoa sem o menor consentimento dela. E tudo acontece da maneira que já comentei: Expectativas, ilusão, decepção. Acho que esse apego repentino que tenho é por culpa das vezes que fui abandonada, passada para trás e facilmente substituída por outro alguém. Tantas pessoas o fizeram, de tal forma que não consigo mais deixar as pessoas irem. Temo ser deixada de lado outra vez. Agarro-me aos outros na esperança de que dessa vez, eles fiquem. Mas eles não se importam. Eles têm outros muito mais importantes para se preocuparem, enquanto eu não tenho ninguém. Está começando a esfriar. Duvido que esse simples cobertor consiga diminuir o frio do meu coração. Ele implora por ajuda. Ele grita, mas ninguém ouve. Já cansei de lutar sem motivos. Cansei de ter que enfrentar essas pessoas hipócritas ao meu redor. Cansei de esconder lágrimas entre sorrisos falsos. Estou farta de tanta mentira. Daqui pra frente, não me importarei com mais nada, talvez assim eu finalmente consiga tornar-me uma pessoa fria, sem sentimentos, que não se apega a ninguém, que não sofre, que não chora. Uma pessoa completamente imune aos feitiços do amor.