quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

Antes da queda



"Às vezes parecia que de tanto acreditar em tudo que achávamos tão certo, teríamos o mundo inteiro e até um pouco mais..."

Legião Urbana


       É ridículo usar uma metáfora numa hora como essa, mas eu diria que aceitamos pilotar um avião por um longo tempo. No início, você hesitava um pouco enquanto eu, confiante e cegamente otimista, dizia que devíamos seguir em frente, que nada nos afetaria e que passaríamos por todas aquelas nuvens que atrapalhavam nossa visão em pouco tempo. Segurei sua mão e falei que enfrentaríamos essa juntos.
      Entramos na cabine, calculamos a rota ideal, verificamos se os paraquedas estavam ali e partimos. Começamos a subir, e eu não conseguia pensar em mais nada além do nosso destino, o lugar onde eu tinha certeza que chegaríamos. 
        Porém, cometi um erro. Eu olhei para baixo. Esqueci de lhe contar que tenho medo de altura e passei mal. Tentei esconder meu desespero, mas você notou meu olhar distante e minha dificuldade de respirar. Lembrei daquele aviso sobre como as turbulências são perigosas. Mas eu ainda queria continuar. Então começou a chover e a nossa visão ficou embaçada. Pela chuva e por minhas lágrimas. Observei o paraquedas no canto durante dias e dias, até pegá-lo e finalmente saltar. 
         Eu desisti. Não é algo que eu me orgulhe em dizer.
        Você deveria imaginar que uma menina frágil não daria conta do recado. Eu não estava pronta para uma viagem para tão longe. Você apostou todas as suas fichas em mim e eu não correspondi às suas expectativas. Pode retirar as palavras "forte" e "corajosa" da minha lista de adjetivos e acrescentar "covarde". Não sou como você imaginava, afinal.
        Só peço que não se desespere como eu. Fico realmente desolada ao pensar que lhe deixei sozinho naquele avião sem saber para onde ir. Mas sei que você se reerguerá porque é forte e destemido.
        Lembre-se: Não desisti por sua causa, desisti pelo voo. Pela altura, pelo medo de cair. Pular do avião é mais seguro quando ainda não há turbulência. Desculpe. Você precisa continuar sem mim. Quem sabe algum dia nos encontremos de novo, quando eu for madura o suficiente para entrar num voo como aquele outra vez. 

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